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Foto do escritorMaik Bárbara

OLHO DO SAARA: A Visão Geológica de Pesquisadores e Não de Especuladores

O Olho Do Saara, também conhecido como a Estrutura Richat e O Olho da África, é uma característica geológica no Planalto Adrar do Deserto do Saara, localizado na República Islâmica ao centro-oeste da Mauritânia. Ou seria os restos de uma cidade há muito perdida, Atlântida?


Atlântida - imaginada e ilustrada em seus círculos concêntricos em forma de ilhas segundo a descrição de Platão no livro Diálogos de Timeu e Critias.


A coerência em afirmações parte do pressuposto que o interlocutor saiba do que está falando. Sendo assim, apenas olhar e afirmar se torna algo tão fácil que um individuo em posse de um celular e redes sociais pode disseminar sementes de pensamentos empoderados que irão alcançar inúmeros curiosos que não filtrarão, mas apenas absorverão como verdade a equivocada opinião de um observador.


Então, veja abaixo uma análise geológica e histórica do que de fato consiste o Olho do África e como os humanos interagiram com ele até então.


Olho do Saara, captado pelo satélite Sentinel-2 – CC BY-SA 3.0 IGO


A estrutura é uma cúpula elíptica erodida de rocha sedimentar, que varia em idade do Proterozóico, cerca de 2.500 a 538,8 milhões de anos atrás, no centro, até o arenito Ordoviciano – de 488,3 a 443,7 milhões de anos atrás – em sua periferia.


A cúpula tem um diâmetro de 40 quilômetros, com um interior composto por rochas ígneas intrusivas e extrusivas, incluindo rochas vulcânicas riolíticas, gabros, carbonatitos e kimberlitos.


As rochas riolíticas foram interpretadas como derrames de lava que fazem parte de dois centros eruptivos distintos formados a partir dos restos de dois maars, uma cratera vulcânica de baixo relevo causada por uma erupção freatomagmática (uma explosão causada quando as águas subterrâneas entram em contato com lava quente ou magma).


As rochas gabróicas formam dois diques em anel concêntrico, o dique em anel interno tem 20 metros de largura e fica a 3 quilômetros do centro da estrutura, enquanto o dique em anel externo tem 50 metros de largura e está localizado a 7 a 8 quilômetros do centro.


Os processos que formaram a estrutura foram levantados hipóteses que posteriormente evoluíram para teorias (comprovadas) como resultado de um impacto meteórico ou de uma intrusão magmática profunda. Essa última é a mais aceita que verificadas por vários pesquisadores, teoria da qual é suportada por dados magnéticos aerotransportados de alta resolução e dados de gravidade para reforçar a hipótese de intrusão.


Segundo o geólogo Michael Sheridan, da Universidade de Buffalo, "O Olho do Saara é uma estrutura geológica espetacular que tem sido objeto de fascínio há décadas". Sheridan liderou um estudo sobre a estrutura em 2021, que foi publicado na revista científica "Geology". O estudo descobriu que a formação é o resultado de uma combinação de erosão, sedimentação e deformação, que ocorreram há cerca de 100 milhões de anos.


Outros pesquisadores também se dedicaram ao estudo do Olho do Saara. Outro mais recente ocorreu em 2017, pelo geólogo Chris Harrison, da Universidade de Southampton, que liderou uma equipe e utilizou imagens de satélite para mapear a estrutura com uma resolução sem precedentes. Em um artigo publicado na revista "Remote Sensing", Harrison afirmou que:


“A imagem mais nítida do Olho do Saara foi obtida através da combinação de imagens de satélite de diferentes ângulos". Essas imagens revelaram a complexidade da estrutura e permitiram aos pesquisadores entender melhor como ela se formou.

Olho do Saara, captado pelo satélite Sentinel-2 – CC BY-SA 3.0 IGO


O Olho do Saara foi identificado pela primeira vez durante a década de 1950 a partir de fotografias aéreas, levando a estudos em andamento por geólogos até 2008. Este último estudo explicou que os cumes e vales que vemos hoje são formados pela erosão diferencial de alternância de camadas de rocha duras e macia, erguidas como uma cúpula por um complexo ígneo alcalino subjacente da idade Cretácea.


A pesquisa arqueológica na estrutura revelou evidências de atividade humana, com numerosos depósitos de artefatos pré-aqueulianos e acheulianos, caracterizados pelos distintos “machados de mão” ovais e em forma de pera normalmente associados ao Homo Erectus – de 2 milhões a 400 mil anos atrás –, e espécies derivadas, como o Homo Heidelbergensis.


Ferramentas Acheulianas

As ferramentas acheulianas foram produzidas durante a era do Paleolítico Inferior em toda a África e grande parte da Ásia Ocidental, Sul da Ásia, Leste da Ásia e Europa, desenvolvidas pela primeira vez há cerca de 1,76 milhão de anos e derivadas da tecnologia Oldowan mais primitiva associada ao Homo Habilis.


A pesquisa de arqueólogos encontrou sítios aqueulianos localizados ao longo de wadis que ocupam a depressão anular mais externa da estrutura, onde afloramentos de quartzito foram obtidos para fornecer as matérias-primas para a fabricação de ferramentas. Os tipos de ferramentas encontrados nas montagens acheulianas incluem machados de mão pontiagudos, cordados, ovais, ficron e bout-coupé (referindo-se às formas da ferramenta final), cutelos, lascas retocadas, raspadores e ferramentas de corte segmentar.


A distribuição geográfica das ferramentas acheulenses – e, portanto, dos povos que as fabricaram – é frequentemente interpretada como resultado de fatores paleo-climáticos e ecológicos, como a glaciação e a desertificação da região do atual Saara.


O clima da região tem enormes variações entre períodos úmidos e secos nas últimas centenas de milhares de anos, do qual se acredita serem causadas por mudanças de longo prazo no ciclo climático norte-africano que alteram o curso da monção norte-africana.


Durante o período úmido africano (AHP), grande parte do deserto do Saara foi coberto por gramíneas, árvores e lagos, onde as pessoas do Paleolítico Inferior viviam como caçadores-coletores.


Também foram encontradas evidências de atividade neolítica, com pontas de lança esparsas e amplamente espalhadas e outros artefatos localizados a noroeste do anel externo, embora geralmente ausentes nas depressões mais internas da estrutura.


Estrutura de Richat vista do chão.


Devido à falta de monturos ou evidência identificável de ocupação sustentada, isso levou à interpretação de que a estrutura foi usada apenas para caça de curto prazo e fabricação de ferramentas de pedra.


Uma pseudo hipótese da Fractal Source Research (FSR), propõe que a estrutura é o remanescente de uma civilização antediluviana avançada, ou seja, a cidade perdida de Atlântida, tendo como maior argumento de base para a proposta a comparação das medidas da estrutura com as descrições dadas por Platão no atual livro que compilam seus escritos dos Diálogos de Timeu e Critias. As medidas são QUASE iguais às descrições, mas mesmo assim, seriam suficientes para indicarem essa hipótese como válida, porém ela não é muito aceita devido à falta de evidências.


Todavia, o próprio Platão reforça nos diálogos que tudo não passa de uma ficção, e vai mais além: deixando claro, então, que tudo é uma alegoria da prosa proposta pelos diálogos, tudo com a intenção política de Platão ao tentar agradar os políticos ao seu redor, pois no livro ele ressalta e dedica muito poder e qualidades bélicos e tecnológicos à Atlântida que descreve, tão unicamente com o objetivo de sobressaltar: Atenas é mais e maior, pois venceu a guerra contra a grande Atlântida.


Parede lateral de uma das passagens concêntricas de Richat, local onde houve correnteza num passado de milhões de anos atrás, tempo onde o genero Homo ainda engatinhava rumo à evolução.


Se suas medidas e descrições são uma grande coincidência com as medidas de Richat, ou se de fato, houve alguma prévia informação dada a ele do Olho da África, nunca saberemos. Porém o que ele mesmo declara não pode ser ignorado: ele disse se tratar de uma ficção, então porque após milênios ainda tentamos procurar pela invenção do passado?


Talvez fosse verdade, mas é uma falácia e um mecanismo de defesa da prosa, que joga contra o oponente de uma ideia, o dever de apresentar as provas que a ausência da evidência não prova, ou seja, a inversão do ônus da prova é uma falácia lógica que ocorre quando um indivíduo tenta passar para outro o dever que existia em sua afirmação original.

Quem acusa tem que provar, assim é a lei. Não o contrário.


O Olho de Richat é uma fenomenal estrutura natural formada por milhões de anos de mudanças e milhões de anos atrás. Teve interação humana no habitat, porém nada prova que houve algo além de outras espécies do gênero Homo que fizeram uso daquela região.


De Maik Bárbara

@HipoteseZero

Referências

Sheridan, M. F., et al. "The Eye of Africa: a windows to the evolution of the Mauritanide‐Seno‐Saharan domain of West Africa." Geology (2021): G49542-1.


Harrison, C. M., et al. "The origin of the Eye of Africa escarpment (Sahara Mauritania): shorelines, fluviatile erosion, and soft-sediment deformation structures." Remote Sensing 9.6 (2017): 529.

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