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Foto do escritorMaik Bárbara

DENISOVANOS e NEANDERTAIS: O ELO CONTINUA PERDIDO?

Os neandertais, Homo Neanderthalensis, vagaram pela primeira vez pela Europa e Ásia ocidental há quase 430.000 anos, até seu desaparecimento a cerca de 40.000 anos atrás, apenas 5.000 anos após a chegada do homo sapiens, primeiros humanos modernos. Mas houve ainda mais humanos que foram descobertas apenas em 2012.



Anatomicamente, os neandertais se adaptavam bem ao clima frio e seco do norte da Europa. Baixos e atarracados - machos em média com 139cm e fêmeas chegando a 129cm de altura, tinham cavidades torácicas largas e, narizes largos com grandes câmaras nasais. Dessa forma, o ar seco ou frio era umedecido e aquecido ao entrar no corpo, permitindo uma habitação e adaptação mais fácil em regiões de climas mais frios.

Não está claro se os neandertais foram os primeiros a criar fogo, mas quase certamente o usaram. Ossos calcinados de queima excessiva durante o cozimento, lareiras a carvão, pedras manchadas de fogo e ossos de animais carbonizados e massacrados, todos foram descobertos em muitos locais de habitação neandertal conhecidos na Europa e na Ásia Ocidental.


Mulher Neandertal em exposição no Natural History Museum


Esse ramo da evolução homo evoluiu para ter cérebros muito maiores do que os humanos arcaicos anteriores e, em alguns casos, tinham cérebros semelhantes ou até maiores do que os humanos modernos. Essa grande capacidade craniana lhes proporcionava maior intelecto, e por consequência permitia fabricar ferramentas e objetos decorativos, fazer roupas, armas e abrigos – e como Darwin sempre disse: o mais adaptável sempre perdura.

Os cérebros dos neandertais também tinham formato mais oblongo do que os cérebros redondos dos humanos modernos, com uma porção muito maior da atividade cerebral dedicada à acuidade visual e à função ocular.

Anatomicamente, as órbitas oculares eram mais arredondadas do que as órbitas quadradas dos humanos modernos, e um estudo da Universidade de Oxford sobre crânios de Neandertal afirma que “os olhos grandes foram os culpados por sua extinção, pois seus cérebros foram adaptados para permitir que eles enxergassem melhor e mantivessem corpos maiores, à custa de processamento e inteligência de alto nível que não chegou a evoluir tanto quando deveria”.

A evolução do cérebro neandertal abriu o caminho para a adaptação de uma cultura neandertal distinta, já que estudos de cemitérios neandertais sugerem que eles foram os primeiros a enterrar seus mortos e adornar os túmulos com flores. Com os enterros deliberados e ritualísticos, não é razoável supor que eles possam ter acreditado em uma vida após a morte, divindade ou espírito, no qual confiar seus entes queridos após a morte.


Caverna de El Castillo, na Espanha. A arte rupestre é considerada uma das mais antigas do mundo, com aproximados 40.800 anos


A arte, em qualquer forma, também é indicativa de uma espécie cultural. Os neandertais criaram objetos artísticos, como joias de osso, mas também podem ter sido os primeiros artistas das cavernas. As pinturas nas paredes da caverna El Castillo, na Espanha, são adornadas com estênceis de impressão manual feitos com ocre vermelho e sinais abstratos. Estudos na caverna sugerem que a arte rupestre tem 40.800 anos - tornando-a uma das artes rupestres mais antiga conhecidas e possivelmente o trabalho dos neandertais. Outras descobertas, como a Caverna de Gorham em Gibraltar, contém uma rocha esculpida que antecede a chegada dos humanos modernos, sugerindo que o Homo sapiens e os Neandertais criaram arte rupestre.


A CAVERNA DE DENISOVA

Em 2008, uma espécie até então desconhecida de humanos primitivos foi descoberta na Caverna Denisova, na Sibéria. Compartilhando um ancestral comum de humanos anatomicamente modernos e neandertais, o recém-descoberto Homo denisovanos (76-52kya) está mais intimamente relacionado aos neandertais que aos sapiens.

Estudos genéticos em humanos modernos sugerem que os atuais habitantes da Europa e Ásia têm cerca de 1 a 2% de DNA neandertal, e como fato: os africanos subsaarianos não têm nenhum, indicando assim que o cruzamento ocorreu durante os curtos 5.000 anos de coexistência e em uma região específica do planeta.


Dente encontrado na Caverna Denisova contendo restos de DNA mitocondrial.


Além disso, o DNA denisovano é encontrado em grupos humanos modernos, como: aborígines australianos, fijianos, indonésios orientais, polinésios e outros grupos oceânicos, sugerindo que os denisovanos habitaram essas áreas e também se cruzaram com os humanos modernos emergentes.


Fragmento do osso humanóide híbrido encontrado em 2012 na caverna Denisova.


Há também evidências de um híbrido de primeira geração de acasalamento Neandertal e Denisovano. Escavações na Caverna Denisova encontraram um osso longo de uma jovem, no qual estudos do DNA mitocondrial, DNA da mãe, indicam que a falecida tinha mãe neandertal e pai denisovano.


Atual entrada da Caverna Denisova. Foto de Igor Boshin


Escavações e vista interna do ponto de encontro dos ossos de origem do Homem de Denenisova.


Existem muitas teorias sobre o que causou o desaparecimento dos neandertais e denisovanos. Conflitos com humanos modernos certamente são uma possibilidade, já que os neandertais não conseguiram acompanhar as armas e estratégias de caça mais sofisticadas dos humanos mais adaptáveis às adversidades do mundo, evoluindo mais rápido que os demais à sua volta.

Outra hipótese sugere que os humanos modernos introduziram doenças estranhas contra as quais os humanos anteriores não tinham proteção, no entanto, uma outra hipótese mais plausível se concentra no cruzamento entre as diferentes espécies de humanos, com a população humana moderna muito maior cruzando as populações menores até a extinção através de unanimidade genética de miscigenação.


E uma coisa é fato: não existe história de “elo perdido” na evolução humana: apenas pouco conhecimentos dos tantos ramos da evolução humana e poucas descobertas até os dias de hoje.


FONTES

Slon, V. et al. Nature https://doi.org/10.1038/s41586-018-0455-x (2018) The genome of the offspring of a Neanderthal mother and a Denisovan father

Krause, J. et al. Nature 464, 894–897 (2010) The complete mitochondrial DNA genome of an unknown hominin from southern Siberia

Fu, Q. et al. Nature 524, 216–219 (2015) An early modern human from Romania with a recent Neanderthal ancestor

Brown, S. et al. Sci. Rep. 6, 23559 (2016) Identification of a new hominin bone from Denisova Cave, Siberia using collagen fingerprinting and mitochondrial DNA analysis

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