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Foto do escritorEdson Almeida

Fatos Pouco Conhecidos Sobre os Sumérios

Atualizado: 29 de out. de 2022


Nos dias atuais, a grande maioria das pessoas linka a Suméria a teorias fantásticas, envolvendo seres extraterrestres, tecnologia avançada e até magia. Como prezamos pelo real estudo histórico/arqueológico, nos cabe apresentar apenas o que pode ser evidenciado, mesmo que não seja tão impactante quanto homenzinhos verdes descendo dos céus.

Sendo assim, neste estudo, conheceremos algumas das mais importantes criações sumérias, que como veremos, mudaram o mundo.

Pequeno Resumo Sobre a Suméria

ki-en-ĝir (𒋗𒈨𒊒 em cuneiforme, que significa "terra dos senhores civilizados"), mais conhecida como Suméria, é a mais antiga civilização conhecida da região sul Mesopotâmica (atual sul do Iraque), entre os rios Tigre e Eufrates. Uma das primeiras grandes civilizações do mundo, junto com Egito Antigo e Vale do Indo.

Historiadores modernos sugeriram que a Suméria foi estabelecida permanentemente entre 5.000 e 4.000 a.e.c., por um povo da Ásia Ocidental que falava a língua eme-gir (posteriormente, língua sumeria), uma língua isolada e aglutinante. Esses povos pré-históricos são agora chamados "proto-eufratinos" ou "Ubaidianos" e teoriza-se que evoluíram da cultura de Samarra, no norte da Mesopotâmia.

Os Ubaidianos, embora nunca mencionados pelos próprios sumérios, são considerados pelos estudiosos modernos como a primeira força civilizadora da Suméria. Eles drenaram os pântanos para a agricultura, desenvolveram o comércio e estabeleceram manufaturas, incluindo a tecelagem, o trabalho em couro, mineração e outros.

Independentemente de qual tenha sido o local e o povo exato que deu origem aos Sumérios, sabemos hoje que o que eles nos deixaram, foi uma herança intelectual e material que mudou o mundo, algumas, utilizadas até hoje.

Foram os Inventores da Cerveja?

Os Sumérios foram os inventores da cerveja? Provavelmente não. Mas com toda certeza, foram os primeiros que a registram, tanto em representações artísticas, quanto em receitas.. Nas ruínas de Uruk, arqueólogos encontraram evidências de fabricação de cerveja que remontam ao quarto milênio a.e.c.

As técnicas de fabricação que eles usaram ainda não foram totalmente evidenciadas, mas sua cerveja preferida parece ter sido uma mistura à base de cevada, tão espessa, que teve que ser sorvida através de um tipo especial de canudo de filtragem feito de junco. Os sumérios valorizavam sua cerveja e a saudavam como a chave para um “coração alegre e um fígado satisfeito”.

Havia até uma deusa suméria da cerveja, chamada de “Ninkasi” (senhora da cevada), que era homenageada em um hino famoso como “aquela que rega o malte colocado no chão”.

Um selo de barro representando um homem e uma mulher bebendo cerveja, 2.600-2.350 a.e.c.

Escrita Cuneiforme

O cuneiforme, termo em latim que significa literalmente “em forma de cunha”, data de cerca de 3.500 a.e.c. Em sua forma mais sofisticada, consistia em várias centenas de caracteres que os antigos escribas usavam para escrever palavras ou sílabas em tabuletas de argila húmida, com um tipo de caneta feita de junco. As tabuletas eram então deixadas no sol e posteriormente assadas.

Tabuleta MNU-0147- Louvre.

Os sumérios parecem primeiramente ter desenvolvido o cuneiforme para o propósito de manter contas e registros de suas transações comerciais, mas com o tempo, ele floresceu em um sistema de escrita completo usado para tudo, desde poesia e história, até códigos de lei e literatura.

Como o roteiro podia ser adaptado para vários idiomas, foi usado ao longo de vários milênios, por mais de uma dúzia de culturas diferentes.

De fato, arqueólogos encontraram evidências de que textos astronômicos do Oriente Próximo ainda estavam sendo escritos em cuneiforme até meados do primeiro século e.c.


As Cidades Sumérias Guerreavam entre si

Embora compartilhassem a língua e tradições religiosas e culturais, as cidades-estados sumérias se envolviam em guerras internas quase que constantemente, resultando em várias dinastias e realezas diferentes. O primeiro desses conflitos conhecidos na história, diz respeito ao rei Eannatum, de Lagash, que derrotou a cidade-estado de Umma. sua rival, em uma disputa de fronteira por volta de 2.450 a.e.c.

Para comemorar sua vitória, Eannatum construiu a chamada “Estela dos Abutres”, um monumento de calcário que retrata pássaros se banqueteando com a carne de seus inimigos caídos. Sob Eannatum, Lagash conquistou toda a Suméria, mas foi apenas uma das várias cidades-estados que dominaram a Mesopotâmia durante sua história.

Parte da Estela dos Abutres, retratando as tropas de Eannatum, na conquista de Umma.

É importante salientar que a guerra interna levou a vários avanços militares, pois os sumérios também inventaram e descrevem a "formação da falange" e a "guerra de cerco". O problema é que essas batalhas também os deixavam vulneráveis ​​a invasões de forças externas. Durante os últimos estágios de sua história, eles foram atacados ou conquistados pelos elamitas, acadianos e gútios.

A Lista de Reis Sumérios Inclui uma Mulher

Weld Blundell Prism, mais conhecido como "A lista de Reis Sumérios"

O Weld Blundel Prism, artefato popularmente conhecido como "A lista de Reis Sumérios", é um artefato que teoricamente contém a cronologia dos reis da suméria, desde tempos imemoriáveis.

A lista é uma estranha mistura de fatos históricos, mitos e lendas. As inscrições afirmam que um dos primeiros reis viveu por milhares de anos, também cita o dilúvio e outras ficções religiosas. Também inclui a única monarca feminina da Suméria, (pelo menos de que se tenha registros).

Era Kubaba, uma mulher "taberneira”, como é descrita, que supostamente teria assumido o trono da cidade-estado de Kish, por volta de 2.500 a.e.c.

Muito pouco se sabe sobre o reinado de Kubaba ou como ela chegou ao poder, mas a lista credita a ela “firmar as fundações de Kish” e forjar uma dinastia que durou 100 anos.

Ponto Importante

É importantíssimo salientar que entusiastas e adeptos de teorias fantásticas, como a teorias dos antigos astronautas e outras, afirmam que a Lista de Reis Sumérios é utilizada pela academia como fonte fiel da cronologia suméria, o que não é verdade. Existem pelo menos 16 versões diferentes da Lista de reis Sumérios e em cada uma delas, nota-se contradições e inconsistências.

A versão mais completa conhecida é uma versão assíria encontrada nas ruínas da biblioteca de Níniveh, datando de no máximo 800 a.e.c., porém, ao compara-la com outras versões mais antigas, nota-se que a versão assíria ignora ou omite toda a dinastia de Lagash, que inclusive, foi uma das maiores e mais prosperas dinastias Mesopotâmicas. Também não cita importantíssimos reis, como Gudea, Eanusha e outros.

Da mesma maneira, nas versões mais antigas, nota-se também outras inconsistências, por exemplo, em algumas versões, o inicio afirma que o reino estava em Eridu, quanto em outras, o reino estava em Kish. Sem contar que a lista ignora completamente outras culturas que invadiram e dominaram a suméria ao longo de sua história, silenciando também sobre Gilgamesh, o mais poderoso rei da cidade de Uruk.

Em resumo, a lista de reis sumérios não é e nunca foi utilizada pela academia como fonte real e confiável sobre a cronologia suméria, mas sim, encarada como mitologia comum para a época, possuindo inclusive, as contradições e equívocos comuns neste tipo de material poético antigo.

Uruk Possuía mais de 80.000 Habitantes

Evidências arqueológicas indicam que os sumérios estabeleceram cerca de uma dúzia de cidades-estados, por volta do quarto milênio a.e.c., que geralmente consistiam em uma metrópole murada, com um Zigurate no meio. As casas foram construídas com juncos do pântano e tijolos de adobe, uma mistura de argila, fibras de folha seca e água. Complexos canais de irrigação foram construídos para aproveitar as águas do Tigre e do Eufrates para a agricultura.

As principais cidades-estados sumérias incluíam Eridu, Ur, Nippur, Lagash e Kish, mas uma das mais antigas e extensas era Uruk, um próspero centro comercial que ostentava seis milhas de muralhas defensivas. Novos estudos arqueológicos realizados pela Universidade da Pensilvânia indicam que a cidade possuía uma população entre 70.000 e 80.000 pessoas no seu auge, por volta de 2.800 a.e.c., sendo provavelmente a maior cidade do mundo na época.

Sítio arqueológico de Warka, ruínas de Uruk.

A Carruagem

Os sumérios não inventaram a roda, como muitos entusiastas afirmam erreoneamente, mas desenvolveram a primeira carruagem de duas rodas em que um motorista conduzia uma equipe de animais, que se tem registro, escreve Richard W. Bulliet em The Wheel: Inventions and Reinventions.

Modelo do tipo de carruagem utilizada pelos Sumérios.

Bulliet demonstra em seu livro que há evidências de que os sumérios já possuiam esse tipo de carroça por volta de 3.000 a.e.c., sendo utilizadas em cerimônias, ou pelos militares em suas campanhas, mas até então, não como um meio de se locomover pelo campo, onde o terreno acidentado dificultaria as viagens com rodas.

Metalurgia

Os sumérios com toda certeza foram a primeira cultura a utilizar o cobre para fazer itens úteis, desde pontas de lança, até cinzéis e navalhas, de acordo com a Copper Development Association, uma equipe de historiadores e arqueólogos de todo o mundo que se dedica ao estudo das origens e uso do bronze ao longo da história humana.

Touro barbado de Ur, 2600-2450 a.e.c. St. Loius Museum

Eles também fizeram arte com cobre, incluindo painéis representando animais fantásticos, como a famosa "águia com cabeça de leão" encontrada em Lagash, ou o Touro Barbado de Ur. Segundo Samuel Noah Kramer, ótimo pesquisador da história mesopotâmica, os metalúrgicos sumérios usavam fornos aquecidos por junco e controlavam a temperatura com um fole feito de couro animal, quase como vemos nas representações medievais, porém, milênios antes.

Fábricas Têxteis

Enquanto outras culturas do Oriente Médio coletavam lã e a usavam para tecer tecidos para roupas, os sumérios foram os primeiros a fazê-lo em escala industrial, como podemos notar pelas inscrições de Umma, conhecida por fabricar e exportar tecidos para diversas cidades mesopotâmicas e egípcias.

Segundo Kramer, a inovação dos sumérios foi transformar seus templos em grandes fábricas. Ele observa e comprova em seu livro "A História Começa na Suméria", que os sumérios foram os primeiros a cruzar as linhas de parentesco e formar organizações de trabalho maiores para a fabricação de têxteis – os predecessores das modernas empresas manufatureiras.

Mulher sumero-acadiana costurando, 2.500-2.300 a.e.c.

Certo é que essa incrível cultura que conhecemos por "Sumerios", mas que se autodenominavam "uğ sağ'gi ga" , que significa "Povo da cabeças/cabelos pretos", nos deixou uma herança intelectual e tecnológica tão grande, que é impossível citar, nem que seja 10% dela, em um mero artigo como este.

Quando digo tecnologia, não me refiro á máquinas ou naves, mas á ferramentas que foram extremamente importantes e responsáveis pela evolução da sociedade ancestral, consequentemente, extremamente responsáveis pelo ponto em que estamos hoje.

Bibliografia

C. L. Woolley - The Sumerians (Norton Library Paperback)

S. N. Kramer - History Begins at Sumer: Thirty-Nine Firsts in Recorded History

S. N. Kramer - The Sumerians: Their History, Culture, and Character

R. W. Bulliet -The Wheel: Inventions and Reinventions.

Copper Development Association - Paperback nº 14, Mesopotamian Bronze Culture

Captivating History - Mesopotamia: A Captivating Guide to Ancient Mesopotamian History and Civilizations, Including the Sumerians and Sumerian Mythology

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