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Foto do escritorEdson Almeida

O Mistério Nomoli - Estatuetas de 17.000 Anos

Atualizado: 1 de nov. de 2023



Estatuetas encontradas em Serra Leoa, na África, são datadas entre 2.000 e 17.000 anos de idade e possuem características que indicam uma história diferente sobre a tecnologia humana.

Não é segredo que o continente Africano é um dos mais ricos quando se trata de descobertas Históricas e Arqueológicas, sendo inclusive, local do início da civilização humana para alguns especialistas. A África é o terceiro maior continente do planeta, com 30 milhões de km2, ocupando 20,3% da área total da Terra, é banhada pelo oceano Atlântico na sua costa ocidental e pelo oceano Índico do lado oriental. Ao Norte, pelos mares Mediterrâneo e Vermelho e ao sul, pelo Mar Antártico.

Dentre a vasta gama de tesouros que o continente Africano nos proporciona, encontra-se uma das descobertas arqueológicas mais fascinantes do planeta, é o caso das Estatuetas Nomoli. Estes itens vêm intrigando especialista por todo o mundo, tanto por sua aparência, quanto por suas características e composição, fatores que geram dúvidas e questionamentos importantíssimos para aqueles que almejam desvendar os mistérios do nosso passado.

Na segunda metade do século XIX, habitantes de Serra Leoa, na África, estavam a procuras de diamantes quando se depararam com um conjunto de artefatos de pedra, eram extraordinárias estatuetas representando várias “raças humanas” e, em alguns casos, seres semi-humanos. Após algumas décadas, o Geólogo explorador Italiano Angelo Pitoni foi para Serra Leoa a procura de depósitos de diamantes, e se deparou com alguns destes itens.

Interessado pelas obras, realizou algumas escavações nas quais foram encontradas mais centenas de estatuetas, que foram devidamente catalogadas e estudadas por Angelo e sua equipe, e com o passar dos anos, estudadas por outros especialistas de todo o mundo. Embora os registros oficiais sobre as descobertas datem do século passado, alguns pesquisadores afirmam que esse tipo de artefato já vinha sendo encontrado desde o século XVII, porém, não se tem registros oficiais destas descobertas mais antigas.

O QUE SÃO AS NOMOLI?

As estatuetas Nomoli estão entre as primeiras obras de arte de Serra Leoa e provavelmente do continente Africano inteiro. Segundo pesquisadores da Universidade Fourah bay College, em Serra Leoa, os artefatos são os únicos vestígios remanescentes de um antigo povo que existia a milhares de anos, onde hoje se localiza o território de Serra Leoa e Libéria, e nos dias atuais ainda existe. As estatuetas foram encontradas enterradas em uma profundidade de dez a cinquenta metros e medem de vinte a quarenta centímetros de altura, algumas chegando até setenta centímetros.

Há muitas variações nas propriedades físicas e na aparência das muitas estatuetas Nomoli. Elas são esculpidas em diferentes materiais, incluindo pedra sabão, marfim granito e outros. Algumas variam em cores, de branco a amarelo, marrom ou verde, sendo que as figuras são predominantemente humanas, outras com suas características refletindo criaturas certamente semi-humanas - híbridos de humanos e animais, como é comum em mitologias antigas.

Estatueta Nomoli possivelmente representando um humano com cabeça de réptil.

Os rostos das estatuetas “humanas” mostram características atípicas: em sua grande maioria elas têm um nariz muito grande como um tipo de bico com narinas, uma boca grande, às vezes mostrando dentes e olhos significativos. As estatuetas encontradas em estratos mais profundos eram mais simples, indicando que o modo de preparo delas foi sendo alterado de acordo com o passar dos séculos.

As esculturas têm várias poses e expressões, algumas montadas em cavalos, outras sentadas com as pernas cruzadas ou de joelhos.Em alguns casos, as estátuas representam um corpo humano com uma cabeça de lagarto, outras representam outras espécies de animais como elefantes, leopardos e macacos. As representações são muitas vezes desproporcionais, com as cabeças sendo grandes em comparação com o tamanho do corpo, e na grande maioria as figuras humanoides aparecem segurando armas ou escudos.

Estudos realizados pela Universidade de Cambridge para descobrir a idade dos objetos indicam que as estatuetas variam entre vários períodos, sendo as mais modernas de aproximadamente 2000 a.c., e as mais antigas, encontradas em estrados mais profundo, de até 50m de profundidade, dataram de aproximadamente incríveis 17mil anos de idade.

Uma estatueta Nomoli bastante misteriosa retrata uma figura humana montada nas costas de um elefante, com o humano aparentando ser muito maior em tamanho do que o elefante. Isso seria a representação de antigas lendas de gigantes, ou apenas uma representação simbólica? Provavelmente uma representação simbólica! Era super comum na antiguidade, que culturas representassem os seres de suas mitologias em seus artefatos e mais comum ainda, que os representassem em escala enorme. Tenha em mente que isso faz parte da mitologia daquele povo, e esses seres mitológicos poderiam ser representados do tamanho que fossem, por aqueles que os adoravam ou temiam.

Figura montando um elefante, também encontrado em Serra Leoa.

A origem das estatuetas Nomoli está repleta de misticismo, o que já era de se esperar, tendo em vista que isso é comum com artefatos relativamente mais novos, quem dirá com estatuetas datadas de até 17 mil anos atrás.

Mas mesmos em casos tão antigos como esse, a dedicação de Historiadores, Arqueólogos e outros profissionais acaba nos permitindo elucidar alguns pontos dessa história, que embora sejam poucos, são imprescindíveis.

Ao que se sabe até atualmente, existem três tribos que poderiam ter manufaturado as estatuetas, os Mende (Mendé), os Temne (Timene) ou os Fula, todas essas tribos já habitavam a região em questão a milhares de anos, e tem costumes de construir estatuetas e ídolos até os dias atuais. Não há um consenso na academia sobre o assunto, mas para a maioria dos pesquisadores, é mais provável que tenha sido os Mende, pois possuem costumes importantes ligadas as estatuetas até os dias atuais.

O povo Mende é um dos dois maiores grupos étnicos da Serra Leoa e existem até os dias de hoje. Algumas das principais cidades Mende são Bo, Kenema, Kailahun e Moyamba. O curioso é que mesmo nessas cidades relativamente grandes, ainda existem muitas pessoas que mantém o costume de adorar ídolos como estatuetas de pedras, o que pode indicar que este é um costume tão antigo que realmente pode estar implantado na cultura desse povo a milhares de anos.

Acredita-se que os Mende são os sucessores de um antigo grupo maior formado por várias tribos que teriam habitado a África Ocidental milhares de anos. Este grande grupo que mais tarde viria a se tornar a civilização Mende teria sido responsável pela confecção das primeiras estatuetas, bem como por passar o costume de geração em geração de uma maneira tão concreta, que existe até os dias atuais.

Mulheres Mende, foto de 1905 retirada do livro Hair in African Art and Culture.

Eles eram principalmente caçadores e coletores, sendo que nos dias atuais algumas cidades Mende ainda mantem este sistema, com exceção da agricultura e pecuária, que são realizadas por eles atualmente, mas certamente não faziam parte dessa cultura a milhares de anos atrás.

Os Mendes atualmente são divididos em Kpa-Mende, predominantes no distrito de Moyamba, Golah-Mende predominantes na floresta de Gola entre os distritos Kenema e Pujehun na Libéria. Existem também os Sewa-Mende e Vai-Mende ao longo do rio Sewa River em Serra Leoa, e os Koh-Mende, que são a tribo dominante no distrito de Kailahun com os Kissi (Ngessi) e Gbandi, ambos na Libéria, Serra Leoa e Guiné. Essas são as tribos Mende que habitam o território nos dias atuais, mas pelo que se tem descoberto, seus ancestrais já estão lá há milênios.

É óbvio que na época mencionada eles ainda não se autodenominavam Mende, certamente se utilizavam de uma língua totalmente diferente da que usam nos dias de hoje, e inclusive nem as estatuetas teriam este nome na época em questão, o que torna difícil de assegurar qualquer teoria sobre elas, mas ainda assim existem lendas que foram passadas de geração para geração, contando sobre a suposta origem destas obras.

RELIGIÃO MENDE

Os Mende, como a grande maioria do povo africano, têm sua religião moldada pelo contato das antigas tribos que habitavam o território no passado, para eles, Ngewo é o criador e governante do universo, é assistido pelos Nga-fa (espíritos), e ambos são ligados à proteção e fertilidade. Toda manifestação ou ação ligada ao espírito, incluindo as máscaras que são realizadas para cerimônias religiosas, são chamadas de Nga-fa.

Os Mende são um povo bastante místico, tanto que até as máscaras são esculpidas para serem esteticamente agradáveis ​​aos espíritos. Eles acreditam que através do uso contínuo das máscaras, os espíritos concordem em encarnar o dançarino durante as cerimônias. Curiosamente, as mulheres mende passavam grande parte do dia usando máscaras ritualísticas, o que parece ser incomum, tendo em vista que para grande maioria das tribos africanas só homens poderiam receber os Nga-fa.

Embora as mulheres em toda a África frequentemente atuem como intermediárias entre o mundo espiritual e o mundo terrestre, não há outros exemplos conhecidos de mulheres usando máscaras, pois eles acreditavam que os espíritos apenas se mostravam para os guerreiros mais corajosos, o que torna a antiga civilização Mende ainda mais fantástica.

Mascara ritualística usada por mulheres Mende em eventos.

O QUE AS LENDAS DIZEM.

As estatuetas fazem parte de várias lendas antigas contadas no território da Serra Leoa, segundo uma das lendas, os ancestrais dos Mende acreditavam que os Kana (anjos) viviam nos céus, mas como punição pelos mal hábitos e comportamentos, os Deuses transformaram os anjos em criaturas monstruosas e os enviaram para a Terra, banindo-os do céu.

As estatuetas Nomoli seriam como representações dessas figuras, como um lembrete de como os anjos foram banidos do céu para viverem como seres mortais e horrendos, e desta maneira todos que as vissem, evitariam más condutas para não serem transformados em monstros como os Kana foram no passado.

Outra lenda diz que as estátuas representam os antigos reis e chefes da região da Serra Leoa, e os nativos viam as estátuas como figuras de boa sorte. Conta-se que eles colocavam as estátuas em jardins e campos, na esperança de ter uma colheita abundante. Em alguns casos, em épocas de má colheita, as estátuas de Nomoli eram chicoteadas ritualisticamente como punição por não propiciarem as benções almejadas.

Tecnicamente não existem indícios materiais de que esta corrente seja a verdadeira, como não há sobre a primeira também, porém, sabe-se que alguns nativos da região tem o costume de chicotear ídolos de proteção quando suas colheitas não vão bem. Seria isso um resquício de antigos costumes ligados às Nomoli?

Bom, as lendas não param por aí, há também quem diga que as estatuetas Nomoli são ligadas a outro povo também bastante antigo no território africano, os Temne (Timené). Segundo essa corrente, os Temne teriam esculpido estas estatuetas a milhares de anos e as colocavam em suas residências para que assim assustassem e afastassem maus espíritos que tentassem se aproximar de suas famílias. Como as outras lendas citadas acima, esta também carece de indícios concretos, mas também é sabido que os Temne até hoje mantêm ídolos em suas residências com o propósito de afastar maus espíritos.

Ídolo Temne, também encontrado em Serra Leoa.

Embora várias lendas possam fornecer algumas dicas sobre as origens e os propósitos das estatuetas, nenhuma dessas histórias foi definitivamente identificada como a fonte original que pudesse ajudar a identificar a verdadeira origem das estatuetas. Há muitas lendas e crenças sobre o que são essas estátuas e porque foram feitas, e embora essas lendas nos deem algumas informações, ainda há muitas perguntas sem resposta.

Tendo em vista as muitas variações em cada estátua em termos de altura, forma, material e características, torna-se difícil até saber se elas foram feitas pela mesma civilização, ou se são obras de diferentes povos, por isso torna-se uma tarefa árdua assegurar o porquê essas estatuetas existiram ou por quem realmente foram feitas.

O MAIOR MISTÉRIO NOMOLI

Como se já não bastasse os milhares de anos das estatuetas, uma delas mostrou-se ainda mais surpreendente para os pesquisadores, tanto por suas características físicas, se parecendo com algum tipo de dragão, ou lagarto com dentes afiados e amostra, quanto por conter um objeto extraordinariamente intrigante e sem explicação em seu interior.

Segundo os relatos de Angelo Pitoni, o pesquisador que encontrou e estudou grande parte desses artefatos com sua equipe, eles notaram que esta era diferente das outras assim que a escavaram, primeiramente por que esta parecia ser bem mais antiga e bem mais desgastada do que as outras, e segundo, pela sua aparência certamente mais assustadora que as demais.

Segundo a equipe de pesquisadores ao segurar o artefato pela primeira vez, notava-se imediatamente que o mesmo emitia um estranho som como se algo estivesse solto dentro dele, e também que o objeto era mais leve do que os outros que eram menores, o que indicava que ele tinha o interior oco, ou pelo menos parcialmente oco.

Pitoni também notou que a estatueta em questão tinha um tipo de tampa em sua barriga, como se fosse uma rolha de uma garrafa de vinho, porém feita de granito. A equipe realizou testes de datação, e comparando os resultados com a profundidade de incríveis 50 metros abaixo da terra, onde a estatueta em questão foi achada, chegaram ao resultado de que ela datava de incríveis 17.200 anos.

A foto mostra a “rolha de granito” encontrada na região da barriga da estatueta da criatura reptiliana.

Perplexo com a idade e as características incomuns deste item em específico, o pesquisador decidiu fazer um Raio-X no objeto, e o iscaneou por completo.

Nesse momento acontecia uma das descobertas arqueológicas mais importantes dos últimos séculos, algo que com certeza bota em xeque tudo que se sabia, ou pensava-se que sabia sobre a história da tecnologia humana.

A equipe identificou que dentro dela havia um pequeno objeto redondo como se fosse uma bola, porém pela cor que o objeto mostrou no Raio-X, logo foi percebido que este objeto não era do mesmo material que a pedra na qual a estatueta foi feita, mas sim de algum tipo de metal.

Essa descoberta fascinou Pitoni e sua equipe, que de imediato decidiram abrir a tal “rolha de granito” situada na barriga da estatueta, e foi o que fizeram.

O que a equipe encontrou dentro da estatueta era nada mais nada menos do que uma esfera perfeitamente redonda de metal. Só isso já bastava para tornar a descoberta extremamente importante, pois como sabemos, para a história tradicional da raça humana, nos só começamos a manusear metais na época da chamada Idade do Cobre, em aproximadamente 3.300 a.e.c., mas como sabemos, a estatua na qual a esfera estava dentro, datava de no mínimo dezessete mil anos, pelo menos quatorze mil anos antes do primeiro relato oficial do ser humano manuseando metais.

Essa descoberta consegue ficar mais surpreendente ainda, isso por que a equipe de Pitoni enviou a esfera de metal para testes, afins de descobrir a composição química da esfera, ou seja, de qual tipo de metal ela era feita, e quando o resultado chegou, acabou trazendo consigo mais perguntas do que respostas.

A esfera era composta de (Chrome Steel), conhecido por nós brasileiros como Aço Inoxidável (cromado), e este metal só foi oficialmente descoberto a pouco mais de 100 anos, quando o metalurgista Harry Brearley conclui o desenvolvimento do “primeiro e verdadeiro” aço inoxidável em seu laboratório na cidade de Sheffield, Inglaterra, em 12 de agosto de 1913.

A estatueta Nomoli mais famosa de todas, o suposto dragão ou reptiliano que contém a bola de aço em sua barriga.

Agora mais do que nunca essa estatueta confirma sua importância para a história da evolução e da tecnologia humana, pois como seria possível um objeto de no mínimo 17.000 anos de idade conter em seu interior uma esfera de um tipo de metal que só foi oficialmente descoberto a pouco mais de 100 anos?

Como seria possível uma civilização relativamente subdesenvolvida de dezessete mil anos atrás, que fazia estatuetas de monstros em pedra, ter a tecnologia, ferramentas e a matéria prima necessárias para criar e manusear um metal que foi difícil de ser criado inclusive no século passado?

Como eles teriam conseguido alcançar a temperatura necessária para manusear o aço em supostamente fogueiras e fornos de barro? Seriam esses itens a prova de que nossa civilização já passou por outras eras com tecnologias mais avançadas do que se pensa?

Não, esses itens não provam nenhuma resposta. Na verdade, eles apenas aumentam as perguntas! Muitos entusiastas ficam felizes em afirmar que essa é a prova de um outra humanidade, ou de contatos com homenzinhos verdes que desceram dos céus, o que pode até ser verdade, porém, não saber como esses itens foram feitos, não nos comprova como foram feitos.

Em poucas palavras, se você não encontra ou conhece as ferramentas e/ou meios utilizados para gerar uma bola de aço inoxidável há 17 mil anos atrás, isso apenas lhe indica que há aspectos da história humana que ainda não conhecemos detalhadamente, e que temos que nos dedicar e pesquisar mais e mais, para que possamos um dia tentar entender nosso passado de forma confiável! Tais afirmações fantásticas, como já dito por min em diversos artigos, são mais fruto da falta de conhecimento, do que da expertise em algum assunto.

Bibliografia e Referências:

Tayler E. France - The Art Bulletin

Brock U. Lins - The Kingdoms and Empires of Ancient Africa

Angelo P. - Nomoli Figurines Vol II.

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