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Foto do escritorEdson Almeida

Tecnologias do Antigo Egito – Parte I

Atualizado: 1 de nov. de 2023


Muito se fala sobre possíveis tecnologias que existiam no passado e foram perdidas ao longo do tempo. O Egito, com suas Esfinges, Pirâmides, Obeliscos e outros artefatos e estruturas tidos por entusiastas como “impossíveis para seu tempo”, com toda certeza lidera esta lista. Já que é assim, trarei neste artigo, que será divido em três partes, um pouco sobre as verdadeiras tecnologias já comprovadas e evidenciadas pela arqueologia, utilizadas pelos antigos Egípcios da 4º Dinastia.


Sabe-se que existem pesquisas e escavações arqueológicas acontecendo a todo momento no Egito. Alguns dos maiores arqueólogos do mundo estão lá pesquisando, escavando e descobrindo novos artefatos, estruturas e tecnologias utilizadas pelos antigos egípcios, neste caso, pelos egípcios da 4º Dinastia (2613 – 2494 a.e.c), a qual o famoso faraó KHNUM-KHUFU (QUÉOPS), pertencia.

TECHNOLOGIA

Para iniciarmos este estudo, primeiramente precisamos entender o que é tecnologia, pois embora pareça ser algo que todos sabem, na verdade é bastante confundida.

Dicionário Oxford: Tecnologia - Teoria geral e/ou estudo sistemático sobre técnicas, processos, métodos, cálculos, meios e instrumentos de um ou mais ofícios ou domínios da atividade humana.

Com toda certeza os antigos egípcios foram uma cultura espetacular, que continha muita tecnologia em seu meio, porém, tecnologia ao pé da letra, como técnicas, cálculos, processos, métodos e instrumentos utilizados. Isso é tecnologia, o que é totalmente diferente de High Tech (Tecnologia Avançada ou de ponta), que consiste em aparelhos eletrônicos, máquinas e afins.

Nota-se que a maioria das pessoas não conhece essa distinção entre os termos, e acabam confundindo a tecnologia comum (que sabemos que existia em grande quantidade no antigo Egito), com a Tecnologia Avançada, que sabemos que, até hoje, dia 21/02/2023, não possui sequer uma evidência historiográfica ou arqueológica que possa indicar seu uso.

Em resumo, quando um entusiasta afirma que havia tecnologia no Antigo Egito, ele não está errado, pois havia e muita, como veremos ao longo destes artigos. O ponto é que quando eles fazem isso, não estão se referindo a tecnologia e ao seu real significado, pois provavelmente nem o conhecem. Estão se referindo á Tecnologia Avançada de Ponta, o que me faz pensar.

"O que é pior, afirmar categoricamente que algo existe, sem sequer uma evidência que corrobore tal ideia, ou afirmar categoricamente algo que você nem sequer sabe o real significado?"

Dito isto, veremos agora um pouco sobre as reais tecnologias que sabemos terem sido utilizadas pelos antigos egípcios de mais de 4.500 mil anos atrás.

A Rampa de HATNUB

Pierre Tallet e Mark Lehner estão no grupo dos mais letrados arqueólogos e egiptólogos que trabalham no Egito. Pierre já apareceu em um de meus artigos sobre o Diário de Merer, sendo o líder da equipe que encontrou tal documento, que hoje sabe-se ser o mais antigo papiro egípcio já encontrado.

Lehner também já deu suas caras aqui no ArqueoHistória, porém, no artigo do pesquisador e meu amigo Maik Bárbara, sobre a já refutada hipótese da erosão por água na Esfinge. Foi Lehner quem liderou as pesquisas que comprovaram tal refutação. O Link para os dois artigos está nos botões abaixo, dê uma conferida.



Pierre Tallet é um egiptólogo francês, mais famoso por descobrir o Diário de Merer. Ele atuou como presidente da Sociedade Francesa de Egiptologia de 2009 a 2017. Mark Lehner é um arqueólogo americano com mais de 30 anos de experiência em escavações no Egito. É diretor da Ancient Egypt Research Associates (AERA), e conduzir investigações arqueológicas interdisciplinares no Egito até hoje.

Os dois pesquisadores acima vêm pesquisando e escavando o Egito há décadas e são responsáveis por diversas descobertas. Uma delas, relativamente recente, é a Rampa de Hatnub, uma rampa descoberta em 2015 no sítio arqueológico de mesmo nome. Hatnub era o local das pedreiras de alabastro egípcio, bem como o assentamento de trabalhadores. Está localizado a cerca de 35 KM do planalto de Gizé e 10 km da pedreira de Tura, onde o Diário de Merer foi encontrado.

A cerâmica, as inscrições em hieróglifos e os grafites hieráticos no local mostram que ele estava em uso intermitentemente desde o reinado de Khufu até o período romano (2589 -300 a.e.c.). O assentamento da pedreira de Hatnub, associado a três pedreiras principais, como as associadas às minas de ouro no Wadi Hammamat e em outros lugares, é caracterizado por quebra-ventos de pedra seca, estradas, calçadas, montes de pedras e alinhamentos de pedra.

A pedreira tinha um único caminho que servia de entrada e saída, e neste caminho, as equipes de Tallet e Lehner, com a ajuda de outros pesquisadores, descobriu uma rampa perfeitamente lisa, em um ângulo de 35º. A rampa ficava bem ao meio do caminho de acesso á pedreira e tinha uma largura de aproximadamente 6 metros. Existem escadas dos dois lados da rampa, desde se seu inícios até o fim, bem como diversos buracos arredondados no chão e nas parede ao lado das escadas.

Visão aérea da Rampa de Hatnub.

Foram encontrados mais de 22 buracos destes, distribuídos ao longo das escadas dos dois lados da Rampa.

Para que serviriam tais buracos? Lehner e Tallet passaram aproximadamente 9 meses escavando, analisando e estudando o local, até que desenvolveram uma hipótese que conseguisse explicar a rampa com as escadas aos lados e os buracos tanto no chão quanto nas paredes.

A setas indicam a posição de alguns (não todos) dos buracos nas escadas do início da rampa.

Ao analisar a disposição, posição e medidas dos buracos, os pesquisadores chegaram á conclusão de que eram fossos de poste, ou seja, eram buracos feitos para que se calçassem grossos troncos de madeira que serviriam como um tipo de "sistema de polia grupal". Como podemos ver nas imagens, os buracos estão dispostos lado a lado, formando pares que se apresentam em espaçamento exatos uns dos outros ao longo da rampa.

Os buracos nas paredes também estavam dispostos em pares que se apresentavam em espaçamento exatos uns dos outros ao longo da rampa, e também foram perfeitamente analisados pela equipe, que chegou á conclusão de que eram "escoras", braços de madeira que saiam das paredes da pedreira, em baixa e alta metragem, ou seja, em cima e em baixo dos postes de madeira que estavam fincados no chão.

Representação: Esquerda - Poste de madeira fincado ao lado da rampa. Direita - Escora de madeira baixa e fosso de escora alta.

Após analisar todos os fossos (buracos), tanto do chão e escada, quanto das paredes, suas disposições, ângulos da rampa, bem como as marcas no chão da rampa, os Tallet e Lehner foram capazes de criar um panorama geral de como e quando a rampa foi utilizada. Começaremos por "como":

Modelo representativo de como a rampa funcionava.

Como podemos ver, é um sistema bastante simples, mas ao mesmo tempo, complexo. Com a ajuda de cordas, os grupos de trabalhadores egípcios utilizavam os troncos de madeiras que estavam fincados no chão e apoiados nas paredes como um tipo de polia, que como sabemos, é reduz fisicamente em 60% a quantidade de força necessária para mover ou levantar qualquer coisa.

Com a ajuda das leis da física aliadas á gravidade, os trabalhadores arrastavam blocos de mais de 90 toneladas em cima de um trenó de madeira, porém, a rampa precisava ser lubrificada com argila, o que acabava deixando marcar na rampa de pedra. Tais marcas indicam toneladas de rocha foram arrastadas em cima de trenós pela rampa por muitos anos. Infelizmente não consegui encontrar fotos em alta qualidade das marcas na rampa, mas elas estão descritas no artigo referência ao final.

Modelo representativo. Neste, podemos ver o trabalhados lubrificando a rampa com argila, bem como as marcas deixadas na rampa.
Modelo Representativo.
Modelo Representativo

Cálculos matemáticos e testes em escala foram realizados pela equipe, que comprovou ser possível o transporte de tais blocos de quase 100 toneladas, utilizando-se do sistema de rampa presente em Hatnub. Os pesquisadores publicaram artigos científicos tanto em parceria, quanto individualmente sobre a comprovação desta hipótese, que ao ser comprovada, passa a ser uma Teoria Vigente, que como sabemos, é o mais alto grau de comprovação e corroboração cientifica que existe na academia.

Quem produziu a Rampa de Hatnub?

Esta pergunta também já possui resposta. Em alguns locais ao longo das paredes da pedreira pode-se encontrar escritas, mais precisamente, hieróglifos. São diversos nomes, de faraós pertencentes a diversas dinastias egípcias. Quanto mais fundo, mais nomes de faraós mais antigos vão surgindo nas paredes.

Na camada de inscrições mais baixa encontrada na pedreira, encontramos diversas vezes hieróglifos que traduzem o nome "Khnum-Khufu", que como sabemos, era o nome real do faraó khufu, mais conhecido como Queóps.

O vermelho marca a altura da primeira camada, ou seja, a cama de hieróglifos mais baixa, consequentemente, mais antiga, encontrada na pedreira.

Utilizando a técnica da crono-estratificação, ficou claro e óbvio para os pesquisadores que a pedreira e a rampa foram feitas á mando do Faraó Quéops, que como sabemos, foi o responsável pela construção da Pirâmide de Queóps, mais conhecida como Grande Pirâmide de Gizé.

Assinatura de Quéops, encontrada diversas vezes na camada mais antiga da pedreira.

Em resumo, só se pode achar uma explicação para a assinatura de Quéops ser encontrada na camada mais antiga da pedreira, que, inclusive, estava 33 metros abaixo do nível normal do solo, apenas 5 metros acima da rampa: Foi Quéops quem mandou a rampa!

Isso é importantíssimo, pois nos indica que os antigos egípcios da 4º Dinastia, há aproximadamente 4.500 anos atrás, já se utilizavam de rampas e do sistema de polia grupal, que antes, pensava-se ter sito utilizado apenas 1000 anos depois. Sabe-se que os blocos da pedreira de Hatnub foram utilizados para a construção dos Fossos dos Barcos Reais do Faraó Khufu, localizados bem ao lado de sua Tumba, a Grande Pirâmide de Gizé.

Sabe-se também que alguns dos blocos utilizados na construção da base da pirâmide de Quéfren, também vieram da pedreira de Hatnub, e alguns pesquisadores afirmam que alguns blocos da base da Pirâmide de Quéops também vieram de Hatnub, porém, não foram publicados artigos científicos que comprovem esta última ligação.

Como vemos, a certeza de uma rampa com sistema de polia grupal, utilizando madeira, argila e corda para transportar blocos de quase 100 toneladas, tudo isso há 4.500 anos atrás, é bem mais fascinante e interessante do que as fantasias sem base dos entusiastas sobre Tecnologia Avançada e aliens no Antigo Egito.

Referência:

M. Lehner, P. Tallet "The Pyramid Builders, New Clues." Ancient Egypt Research Associates (AERA). vol I, 2019

Moores, Robert G. “Evidence for Use of a drag system by the Fourth Dynasty Egyptians.” Journal of the American Research Center in Egypt, vol. 28, 1991


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