UNDERWORLD – O INFERNO NO CENTRO DA TERRA
O PLANETA TERRA QUE NINGUÉM CONHECE, DOS MITOS DO SUBMUNDO AO REAL SUBSOLO: A CONFUSÃO ENTRE INFERNO E SUBTERRÂNEO
Peneirar a história e possíveis fatos presentes entre eventos dentro das projeções do imaginário cultural e inventivo de antepassados com forte pensamento religioso divinizador, para então seguir caminhos de exploração possível e conseguir provas das hipóteses mais loucas e, prováveis, reais que possam ter sido distorcidas com o decorrer dos séculos. Eis aí o desafio.
O SUBMUNDO EGÍPCIO
A antiga religião Egípcia tem origem da mesma forma que a maioria: culto ao desconhecido, veneração pelo poder alheio e superior aos humanos tribais primitivos. E no caso das raízes do deus Anúbis, não seria diferente.
Os nômades do deserto tinham duas premissas para atravessas os longos caminhos sobre as areias escaldantes: seguir o sol como direcionador de sua trilha e jornadas diurnas e ter acesso à água.
É presumido por diversos pesquisadores e de áreas diferentes desde a antropologia, passando pela arqueologia e indo até a teologia que a culto ao chacal tenha partido dessa necessidade primitiva do viajante do deserto.
Anubis: O condutor dos espíritos pelos caminhos do submundo no pós-vida Egípicio.
Antes de se localizar pelo sol e seguir sua jornada, o viajante deveria rastrear água, a fim de não perecer antes de chegar ao seu destino final. Uma tarefa um tanto desafiante nesse tipo de ambiente. Todavia, uma das formas mais eficientes para alcançar esse objetivo era observar e seguir os chacais.
Chacal é um termo referência para três espécies caninas, sendo uma delas o Chacal Dourado, o qual tem várias táticas extremamente eficazes de sobrevivência evoluídas para os desertos. Uma das características comportamentais desses incríveis animais do deserto é o chamado vocálico característico que segue avisando aos outros animais da matilha sobre uma forte tempestade de areias que está por chegar, o que pode alertar minutos, ou até segundos preciosos antes a um viajante, que irá se precaver e não ser açoitado de surpresa por ventos carregados com areia e detritos que chegam violentos e de repente a mais de 70km por hora. Mas acima de tudo, os chacais têm um fator de sobrevivência importantíssima para os humanos que os observam: uma das formas mais eficazes de encontrar água no deserto através do faro aguçados e milênios de evolução para se especializar nessa técnica, e é exatamente o que mais interessa ao viajante antigo do deserto, que os seguem até que encontrassem água para se aliviar da sede. Por esse motivo, esses animais eram vistos como criaturas que levavam à vida, condutor das pessoas pelos caminhos árduos até a fonte da vida, a água.
Centenas, se não milhares de anos se passaram de evolução humana, e o que no início foi um modo de sobrevivência, evoluiu junto com a cultura de um povo, sobrepujando-se e sendo adaptado em forma de culto religioso. O conceito então subiu um degrau, e não mais o animal era foco de adoração, mas uma deidade em pessoa, meio-homem meio-chacal, transportando e transformando o poder e divindade do condutor à fonte de vida, água, para o condutor das almas pós-morte pelo submundo, até o ponto do julgamento final feito por Osíris e, finalmente começarem a viver de fato. Sim, o conceito de morte como compreendemos não existia para os antigos egípcios até certo momento da história, sendo então a morte uma mera passagem para a vida pós-morte, onde realmente a vida começaria.
Lembrando que Anúbis troca por vezes durante o império Egípcio de conotação, origem exata e função religiosa. Todavia, durante seus quase 3.000 anos de adoração, ele sempre representou a condução à vida, fosse ela qual fosse.
Em síntese, a depender da dinastia faraônica que cultuava Anúbis, momento na linha do tempo da antiguidade ou até a região do Baixo ou Alto Egito, essa é uma das versões mais abrangentes do culto a Anúbis. Fato é, os Egípcios também dedicaram sua literatura em parte, e grande parte, ao submundo (ou seria subterrâneo?). Onde por vezes as traduções dos cartuchos de escrita hieroglífica diziam submundo, mas sobre rastreamento de radares e sismografia, em estudos mais recentes, 2019 e 2020, constatou-se que nem sempre a palavra submundo se referia ao mundo dos mortos, como sendo uma outra dimensão, mas sim ao subsolo, ao subterrâneo.
A diretora, documentarista e pesquisadora Carmen Boulter, durante o ano de 2019 e 2020 executou teste e varredura no Egito, que envolvem autorizações especiais governamentais, radares de penetração de solo via sismografia e escaneamento de alta definição feito por satélites. Tecnologias que unidas sob a supervisão de ótimos profissionais têm a capacidade de atingir até 6km de profundidade, e o mais revolucionário: têm a capacidade de ir além de camadas, ou seja, detectando diferente densidade de materiais, rochosos ou não, atravessando a camada mais maciça ao atingi-la. Sendo assim capazes de encontrar o que arqueólogos levariam décadas escavando e talvez nem chegassem a tamanha descoberta.
Boulter constatou que em um jogo de linguística, o descrito pelos visitantes intercambiários filósofos gregos da antiguidade sobre os segredos da humanidade estarem guardados sob a pata da Esfinge, poderia ser algo mais abrangente, tal como sob a esfinge, de uma forma generalista, o que a fez chegar a investigar o subterrâneo do Planalto de Gizé e fazer varreduras melhores em áreas menos vigiadas pelo forte protecionismo religioso do país e do governo egípcio, fazendo-a chegar até a pirâmide de Hawara. Local esse onde aconteceu uma descoberta que ela guarda quase toda a informação para seu próximo documentário, mas que liberou alguns elementos e imagens.
Pirâmide de Hawara, a pirâmide de Amenemhat III 1860 aEC., fica em uma das cidades mais antigas, senão a mais antiga, do Egito, Fayoum. Foi escavada pela primeira vez pelo egiptólogo Karl Richard Lepsius em 1843.
Famosa pirâmide que guardaria um dos grandes segredos daquela região, o Mistério do Labirinto de Hawara, descrito por filósofos intercambiários no antigo Egito e pela recém polêmica do achado do tal labirinto, ela foi foco de atenção anos atrás, mas já não está mais em evidencia. O labirinto, no enquanto, não está em grande profundidade, mas sim, praticamente à altura do solo, e não mais superficialmente subterrâneo como já foi um dia.
Já como Carmen constata, bem abaixo da pirâmide foi encontrado uma camada de tuneis e câmaras de simetria construtiva com ângulos retos que estão a aproximados 20 metros de profundidade, vejam na imagem com o destaque em azul. Todavia, o mais interessante é um conjunto de tuneis e câmaras localizados mais abaixo ainda, a incríveis 40 metros de profundidade. Curiosamente, escaneando todo o perímetro constatou-se que o nível 1 (azul na imagem de destaque acima) não tem ligação de forma alguma com o nível 2 (destaque em vermelho nas imagens).
Concluindo-se, que os conjuntos foram utilizados em momentos diferentes da história daquela região, ou os acessos para o nível mais inferior foram eximiamente obstruídos, de forma a não deixarem rastros de emendas, uma vez que não foi possível encontrar passagens de acesso entre um e outro. No total são 63 câmaras e várias delas têm proporções maiores que uma piscina olímpica - 50 X 25 X 3,05 metros.
Dr. Carmen Boulter, professora acadêmica na Universidade de Calgary no Canada, na Divisão de Pós-graduação em Pesquisa Educacionais. Também é escritora, diretora documentarista, produtora e pesquisadora em assuntos voltados para incógnitas históricas.
Hawara foi apenas um pequeno pedaço da superfície que teve o privilégio de tamanho investimento de tempo, expertise, tecnologia e dinheiro na procura por respostas arqueológicas nas profundezes do solo rochoso esculpido, e ainda assim surpreende nos resultados. Uma construção 40 metros abaixo do solo é algo descomunal até para a arquitetura moderna, e sem ligação com o nível superior, 20 metros acima. Lembrando apenas que na arqueologia, quando se refere a leitura de substratos e datação: quanto mais profundo, mais antigo. O que caberia muito bem no tópico, pois uma diferença de substrato de 20 metros em um terreno rochoso não é para qualquer sítio arqueológico ou civilização, isso pode significar milênios de diferença entre a construção e uso de um nível mais profundo em relação ao outro.
Sim, é então que percebemos que durante as narrativas egípcias antigas, o submundo poderia estar até mais próximo que outra dimensão, mas sim sendo níveis abaixo. Tal como descrito em estudo sobre os tuneis e passagens subterrâneos do planalto de Gizé, as câmaras sob a Esfinge, a própria Tumba de Osíris penetrando três andares chão abaixo, entre outros.
Estariam, então, as traduções dos cartuchos que citavam o submundo se referindo mesmo ao mundo dimensional dos mortos por onde Anúbis caminhava e Osíris se recolheu depois de 80 anos de reinado faraônico, ou seria esse submundo um local subterrâneo onde pessoas tidas erroneamente como deuses por adoradores com mentes mais primitivas, se resguardavam em níveis inferiores chão adentro?
Estaria apenas o Egito com esse equívoco interpretativo, ou veríamos isso em outros locais do mundo e em outras culturas e tempos diferentes? A resposta é sim, há centenas.
Enfim, essas foram constatações levemente penetrantes no subsolo. Estruturas feitas pelo homo sapiens, ou assim esperamos. Mas e quanto às estruturas naturais, que chegam a dezenas de quilômetros de profundidade sem distinção de certo ou errado, poder ou não poderem existir, apenas estão lá. Elas desafiam o que conhecemos até o momento e apenas existem e estão lá.
Seríamos, nós dos dias atuais, os primeiros descobridores desses absurdos locais subterrâneos, ou como colonizadores europeus ao chegar nas Américas, estamos por descobrir que ao atingir esferas geológicas mais profundas podem existir por lá muito mais que nossos mitos contavam?
O que esses lugares guardam para a surpresa dos céticos e dos estudiosos que buscam respostas?
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NA PARTE 3 dessa matéria exploraremos os sistemas subterrâneos naturais que podem ter dado origem a mitos e lendas dos mais famosos que temos até hoje, porém sob uma análise do método ciêntífico. Em breve.
Autor: Maik Bárbara
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