UNDERWORLD – O INFERNO NO CENTRO DA TERRA
O PLANETA TERRA QUE NINGUÉM CONHECE, DOS MITOS DO SUBMUNDO AO REAL SUBSOLO: A CONFUSÃO ENTRE INFERNO E SUBTERRÂNEO
Expandindo e explorando a narrativa do mito de Agartha, sua origem e implicações no imaginário popular atual.
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O Mais Antigo Mito do Mundo
Em uma época de exploração e expansão científica, Alexandre Saint-Yves – apresentado na PARTE 4 dessa série – se interessou tanto pelo assunto Agartha, que de início se mostrou tão estranho e bizarro, mas ao mesmo tempo apaixonante pelas possibilidades do quê aquilo significaria, que elevou o tópico a níveis irresistivelmente fascinantes. Talvez tenha sido uma inspiração para os fatos narrados pelo contra-almirante Byrd em sua desbravada ao Polo Norte, é provável que tudo seja invenção do almirante, todavia narrativas e fatos apenas são congruentes quando há evidências, e infelizmente ainda não há quanto a esse assunto. No entanto a narrativa em si já é admirável e está em sintonia com Saint-Yves.
A entrada do avião de Byrd em uma abertura semelhante a uma cratera que ao mesmo tempo também desafiava o direcionamento de sua bússola e instrumentos de voo o fez acreditar no impossível. Fatos que o atrapalharam até em seu posterior retorno, não antes de encontrar com seres viventes em uma região subterrânea que ele relatou como uma civilização extremamente evoluída e detentora de tecnologias inimagináveis para ele na época.
Sua narrativa não é de forma alguma a primeira sobre o assunto, mas é uma das mais famosas nos meios de comunicação e especulação pseudocientífica, e uma das últimas que alegam ter existido, e mesmo assim, não foi presenciado apenas por ele, mas por outras testemunhas também, ao menos até ele adentrar no “grande buraco no chão” como Byrd mesmo descreve em seu diário e registro de bordo/voo de 1947.
Richard E. Byrd 1888–1957
O contra-almirante Richard E. Byrd da Marinha dos Estados Unidos, em missão, sobrevoava as regiões geladas para mapeamento aéreo, e exatamente sobre a larga área de gelo acabou por chegar diretamente sobre o centro do Polo Norte geológico. E para sua surpresa, ao invés de mais neve e paisagem alva, narra que se deparou com uma grande abertura no chão que podia compreender não apenas o tamanho de seu avião, mas também abarcaria manobras de retorno. Ele relata que mesmo com a bússola se comportando de maneira diferente do que deveria, aventurou e adentrou a abertura no chão. Ainda seguindo os registros de seu diário, ele descreve que desde a entrada nessa passagem até cruzar o largo caminho, voou durante aproximados 2.700km. Pelo longo caminho e distância absurda só encontrou o inesperado: quando mais descia pelo enorme túnel e se aprofundava, disserta que sobrevoava formações montanhosas que gradativamente se tornaram livres da neve e davam lugar a algo extraordinário, descreveu lagos, rios, vegetação verdejante e até vida animal. Admirou tudo do alto em meio ao barulho de seu motor de hélices, e pôde ver também animais detalhados como “monstruosos” e de grandes proporções, semelhantes a mamutes.
Por fim, ele chega em uma região onde citou como uma cidade de certa civilização próspera. O almirante só descreveu como “próspera”, pois ao chegar ao perímetro da cidade foi abordado por dois aparelhos voadores desconhecido por ele, que o escoltaram até o chão, evitando assim que observasse mais do alto e cessasse sua descrição apenas ali.
O restante do seu diário é mais fantástico que até esse momento, pois narra o encontro com os habitantes: enormes pessoas que conseguiram se fazer entendíveis, uma vez que explicaram manter registros do que acontece acima da superfície e a língua e comunicação não seria um problema tão grande.
Depois de vários outros acontecimentos dessa sua desbravada e escolta para fora do local de entrada, retornou com uma história fantástica que aparentemente poderia ser uma das maiores descobertas da humanidade, porém segredo momentâneo foi solicitado pelo alto escalão. Assim foi feito, e seu segredo junto com o tema discutido com aqueles habitantes não mais apareceu em meio de comunicação algum.
Todavia, em uma nova missão, então, em 1956, o almirante liderou a viagem exploratória à Antártida, Polo Sul. Lado oposto da sua ocorrência inicial, e com a mesma missão de mapeamento aéreo. Lá, a narrativa se repetiu. Mesmo que não estivesse procurando por aqui, conseguiu resultados semelhantes, encontrando outra entrada, e novamente a explorando e indo parar em uma cidade subterrânea da mesma cultura que o recebeu no outro encontro. Cita que viajou 3.700km até chegar em seu destino. Do pouco que ele relata sobre esses encontros e discussões travadas, que chegou em seu conhecimento serem não apenas esses dois pontos de entrada: Polos Norte e Sul, mas vários outros acessos distribuídos pelo planeta serviam de entradas para certas cidades do subsolo.
The National Geographic Magazine, Agosto 1930
Suas expedições e relatos, posteriores, foram publicados pela renomada National Geographic Magazine e vários jornais de ampla circulação da época. Ray Palmer era o editor da Flying Saucer Magazine, e descreveu em detalhes as duas expedições. Todavia o governo norte-americano recolheu as edições impressas que envolviam o relato, e Palmer ainda declarou que agentes solicitaram a destruição das placas de impressão originais. O mesmo aconteceu com a revista da National Geographic, recolhida e rastreada as edições já vendidas. Mais um fato que “não é verdade”, mas é protegido pelos governos.
Nos EUA há uma lei que resguarda agentes federais a agirem quando publicações têm implicações com estudos, ou não, voltados para a geologia. Parece estranho, mas é apenas um fato. Talvez para proteção de água e recursos minerais, para evitar disparates populacionais à procura de ouro, pedras preciosas e demais tesouros subterrâneos. Todavia, não será fácil equalizar, pois por vezes acontece a censura de materiais aparentemente nada ligados com assuntos adversos se não seu tema em si.
Byrd pode ter se inspirado em Saint’Yves, em textos Hindus, em criatividade pura, alucinógenos ou visto o que realmente relatou. Embora seja mais fácil e tentador alegar qualquer uma das afirmativas anteriores, por mais fantástico que pareça, até o século XV os europeus juravam que depois do oceano conhecidos hoje não existiam, e as Américas não estavam por aqui. Então, possibilidades são viáveis de serem levantadas, especuladas e citadas, mas apenas sob cunho lendário, ao menos até haver provas, evidências, fontes comprováveis.
Voltando à Saint’Yves, ele pode ter tido precursores de seus aprendizados sobre a possível civilização intraterrena. Uma inspiração para um rio de falsas e fantasiosas alegações em seus livros, ou realmente apenas mais confirmações do que se provou fato: um professor que existiu e deixou documentos em uma biblioteca que hoje mostram o quão erudito e estudioso foi um dia.
De uma forma ou de outra, o mito da cidade sob a superfície voltou à tona após séculos de esquecimento ou ignorância. Citada no passado humano, perdida em narrativas e ressuscitada sob circunstâncias duvidosas. Fato é: o oculto submundo está rondando há milhares de anos.
Durante estudos preliminares do hebraico antigo para sua Missão de Trabalhos Judeus, Saint’Yves encontrou textos que ao traduzir o indicaram muito mais do que uma pista dessa penetração mitológica solo abaixo, provas que corroboram com determinados pontos de mitos mais antigos. Isso se completou e o fez tão interessado em Agartha quanto seu professor citou-a pela primeira vez. Ele participou dessa Missão muito antes de ouvir falar da cidade subterrânea que décadas depois o almirante Byrd narrou a respeito.
Saint’Yves conhecia sobre o que hoje temos como a localidade da Tumba/Tumulo dos Patriarcas, ou como é rotulada pelos judeus como a Gruta de Machpala, localizada em Hebrom, Cisjordânia, antiga Judéia. Ou até como é nomeada pelos muçulmanos, Santuário de Abraão, ou Tumba de Abraão. Ponto esse que se tornou um dos mais sagrados locais de peregrinação em ambas as religiões. O que é declarado de forma clara no livro The Zohar, O Zohar, tradução por Daniel C. Matt, livros dedicados a comentários sobre a Torá, os cinco livros de Moisés - inicialmente escritos em aramaico e hebraico medieval. Nele pode-se observar a indicação que o Jardim do Éden não apenas arremete a paralelos até oportunos com Agartha, mas também poderia ser um indicativo de que o Éden bíblico judeu seria uma lenda reciclada do arcabouço mitológico de um mundo muito mais antigo e enclausurado para o subsolo por meios desconhecidos.
Há inúmeras outras culturas antigas, isoladas e que, aparentemente, nunca tiveram contato entre si, seja por separação de territórios, continentes e/ou oceanos, até a diferença de milênios entre as origens de um povo e outro. E mesmo assim ainda mostram traços narrativos e semelhança falando sobre o submundo e suas origens.
O planeta carrega consistente mitologia com fragmentos de civilizações antigas partindo de onde menos se espera, aludindo ideias a reinos internos à Terra:
Na América do Norte os nativos da região nordeste do Arizona, EUA, os navajos acreditam que seus ancestrais emergiram de um mundo subterrâneo sob as Montanhas Navajo;
Ainda na América do Norte, em uma reserva de nativos do povo Hopi: eles têm ritos de passagem masculino da vida juvenil para a adulta que envolve adentrar em certas cavernas da região, onde apenas eles conhecem as entradas, e percorrerem caminhos longos e escuros até encontrar algum artefato do povo que vive por lá, no subterrâneo, e roubar um desses itens para que o jovem prove sua coragem e use o objeto coletado em rituais posteriores. A jornada pode durar dias, e suprimentos são necessários.
Na América Central, os astecas alegavam ser uma das sete tribos que vieram através das cavernas de Astlan.
Na região dos EUA, em sua porção territorial mais central, as antigas tribos do povo conhecido como Creek declararam aos primeiros exploradores que por lá chegaram, que sua origem foi dada quanto a terra se abriu ao oeste e os Creek de lá saíram.
Na América do Norte os famigerados, e tidos como violentos, nativos do povo apaches declaravam abertamente que “a terra se abriu e seus antepassados saíram de lá”. Um mito da criação que envolve a origem das pessoas a partir da vinda do subsolo, pois as suas narrativas contam também a respeito do tempo anterior a isso, e dizem que os Homens viviam em cavernas antes de poderem ver o céu novamente. Os apaches ainda têm uma velha lenda que fala sobre uma caverna no Arizona que depois de quilômetros de percurso chega-se ao reino de habitação de uma civilização, conhecida por eles e ao mesmo tempo respeitada profundamente.
Ainda na mitologia dos nativos dos EUA, na região de Nebraska e ao norte de Kansas, reside outro povo indígena norte-americano que tem em seu mito da criação/origem semelhança com o de seus compatriotas de outras tribos na parte norte do continente, porém com algo a mais. Os Pawnee, Paneassa, Pari ou Pariki têm em suas tradições a declaração de não apenas eles terem vindo de origem sob a terra, mas que de lá surgiram também os animais, ao menos os animais que faziam parte do seu habitat.
O povo Zuni, e um dos chamados povos pueblo, a maioria deles vivendo no povoado de Zuni Pueblo, atual Novo México, narrama em suas lendas de origem que no início todos os Homens viviam do subterrâneo, de grande profundidade, e seus antepassados vieram de sob seus pés, e que muitos ainda ficaram nas profundezas.
Na América Central e do Sul é tão rica em lendas do submundo, que há de se considerar que talvez seja por proximidades territorial dos povos. Uma questão um tanto descartável, haja vista a grande disputa étnica e territorial que esses povos tinham entre si, ou seja, se não se aguentavam como diferentes em tribo, ritos, etnia ou sob o mesmo território, segundo antropólogos, a reciclagem ou apropriação mitológica se torna ainda mais difícil de acontecer, pois a não aceitação mutua também não gera empatia a esse nível, dentre outros fatores.
E assim como na América do Norte, também em outros continentes, as lendas vão além e são até mais elaboradas e impressionantes que toda a narrativa sobre Agartha ou povos tribais, tal como a Shambhala, também foco de estudo por Saint’Yves antes de conhecer a cidade perdida de Agartha, e mais conhecida atualmente.
Na próxima parte dessa matéria, além de abrir sobre Shambhala, também exploraremos a conclusão do conclomerado de relatos, especulações, teorias e possíveis evidências sobre o sugmundo e sua evolução mitológica. Acompanhe a próxima parte... em breve.
Por Maik Bárbara